— O repórter do ABC News, John Quinones, que cobriu o terremoto de 1985 no México, reflete sobre o desastre, que matou milhares, no rescaldo do terremoto desta semana exatamente 32 anos depois.
Quando vi a notícia de última hora, “Terremoto na Cidade do México”, senti uma dor familiar no poço do meu estômago. Levou-me de volta àquele dia terrível — exatamente 32 anos atrás — quando aterrissei na enorme capital do México para cobrir o último grande terremoto do país em 19 de setembro de 1985.
Atingiu às 7:17 da manhã enquanto a maioria dos residentes da cidade ainda estavam em casa: um violento tremor da terra que registrou uma magnitude 8.0. O tremor poderoso continuou por três a cinco minutos, mas parecia durar para sempre. A energia liberada no auge do terremoto, disseram especialistas, era equivalente a aproximadamente 1.114 armas nucleares explodindo.
Centenas de edifícios desmoronaram. Cerca de 10.000 pessoas foram deixadas mortas e dezenas de milhares, feridas ou desabrigadas.
Lembro-me de aterrar na única pista deixada aberta no Aeroporto Internacional Benito Juarez para um caos generalizado nas ruas da capital. Centenas de milhares – talvez milhões – de pessoas se recusaram a entrar em suas casas ou escritórios, com medo dos inevitáveis e poderosos tremores secundários.
Mas então, milhares de outros residentes arregaçaram as mangas e começaram a cavar os escombros – tijolo por tijolo – em busca de sobreviventes. A cada poucos minutos, um dos voluntários gritava, “Silêncio!” e imediatamente, todos paravam de cavar. Havia um silêncio sinistro no ar poeirento enquanto todos nós ouvíamos qualquer som de sobreviventes.
Mas, com o passar dos dias, as chances de encontrar mais vítimas vivas cresciam cada vez mais.
E então vieram os milagres.
No meio da noite, seis dias após o primeiro terremoto, estávamos filmando no Hospital Juarez, no coração da capital. Ninguém tinha sido resgatado em dias. Então, de repente, os voluntários levantaram as mãos no ar, mais uma vez chamando pelo silêncio. Um dos trabalhadores tinha ouvido o que ele pensava ser o som fraco de um bebé, chorando. Os voluntários então retomaram as suas escavações frenéticas. E com certeza, em poucos minutos, tiraram gentilmente uma criança de seis dias – a pequena Elvira Rosas – dos escombros. Ela tinha nascido minutos antes do chão tremer quase uma semana antes e, de alguma forma, contra todas as probabilidades, tinha sobrevivido.
E, não foi só isso. Uma hora e meia depois, outra chamada para o silêncio e mais uma criança — desta vez um menino de 8 dias de idade foi levado a aplaudir e chorar gritos de gratidão.
Esta noite, enquanto vemos voluntários incansáveis mais uma vez cavarem os escombros de edifícios desmoronados — incluindo uma escola da Cidade do México onde dezenas de crianças ficaram presas — os salvamentos que testemunhámos exactamente há 32 anos atrás, devem dar-nos esperança.
Afinal, “milagres” acontecem.