A ciência e a medicina têm lambido algumas das aflições mais desagradáveis que o mundo já viu. Mas se uma criança tem eczema, deve beber leite? A resposta ainda é desconhecida.
A pesquisa clínica leva a avanços espantosos. A hepatite C, ainda uma condição prevalente e frequentemente dormente, afeta até 400 milhões de pessoas em todo o mundo; mas nos últimos meses, dois medicamentos com taxas de sucesso surpreendentes equivalem a mais ou menos uma cura para os pacientes. A terapia do câncer muitas vezes surpreende. O tétano, a poliomielite e o sarampo – todos outrora mortais na sua época – foram, na sua maioria, eliminados do mapa global. Entretanto, o papel do leite no eczema permaneceu um mistério, até possivelmente agora.
O leite contém cálcio e vitamina D, ambos cruciais para a construção da saúde óssea, entre outros benefícios. Contudo, a National Eczema Foundation e muitos outros listam os produtos lácteos ao lado de ovos, nozes, soja e trigo entre os alergênios alimentares que podem causar eczema. Outros estudos sugerem que o leite orgânico ou leite de soja pode ser melhor para as crianças, mas veja a frase anterior: a soja também está nessa lista. E as provas concretas são contraditórias.
Um estudo recente em Dermatologia Clínica e Experimental sugere que as crianças com eczema atópico (AE) podem, de facto, beneficiar do consumo de bebidas lácteas. O estudo analisou mais do que apenas o consumo de laticínios; analisou o consumo de bebidas em geral, usando a freqüência de consumo de bebidas relatada pelos pais e relacionando isso com a gravidade da doença AE, conforme medida pelo Nottingham Eczema Severity Score (NESS). O estudo também utilizou um índice de qualidade de vida, o Children’s Dermatology Life Quality Index, e outras medidas clínicas, incluindo hidratação da pele, pressão arterial, frequência cardíaca em repouso e índice de massa corporal.
A pesquisa constatou que, em comparação com crianças sem EA, houve uma tendência das crianças com EA beberem menos leite (P = 0,06) e mais bebidas diversas (como chá de ervas chinês e leite de soja; P = 0,03). Em crianças com AE, NESS correlacionado com CDLQI (ρ = 0,66, P < 0,001) e diminuição da hidratação da pele SH (ρ = -0,32, P < 0,001), enquanto que CDLQI correlacionado com uma freqüência cardíaca em repouso mais alta. A análise mostrou que o sexo masculino e o consumo de leite fresco foram fatores independentes associados a doenças menos graves. Além disso, em termos de saúde cardiovascular, o consumo de refrigerantes foi associado com maior pressão arterial sistólica.
Os autores observaram que a orientação dos pais e a observação atenta ainda são garantidas em crianças que têm EA. Entretanto, os achados acrescentam à evidência que o consumo de leite pode fazer mais bem que mal.
“Com estes resultados sendo apoiados por uma revisão da literatura, é razoável aconselhar aos pais que o leite fresco pode ser consumido por crianças não sensibilizadas com EA”, os autores do estudo concluíram. “Refrigerantes e outras bebidas não devem ser consumidas em excesso para uma saúde cardiovascular ideal e por outras razões de saúde”.